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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

MÊS DA CONSCIÊNCIA CULTURAL NEGRA

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele ou por sua origem ou por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender. E se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta.” Nelson Mandela
Projeto: Eu e os Outros
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Denise Mara Fernandes Cunha
 I - Situação inicial diagnosticada
A necessidade de se fazer um projeto que trabalhasse o Eu (auto-estima) e os Outros (respeito, tolerância, amor, paz, etc.) se deu a partir de uma problemática detectada em textos produzidos pelas crianças. Foi pedido à elas que fizessem sua descrição (apresentação pessoal) para “amigos secretos de correspondência”, projeto desenvolvido com outra escola. Ao fazê-la se colocaram como brancas, morenas e até café com leite. Mesmo tendo negros na sala, esses não se assumiram como tal.
Todos os anos o4º e 5ºANO tem em seu planejamento e livros didáticos o tema: Vinda dos negros ao Brasil mas, observou-se a necessidade de dar outra conotação a esse tema, o da valorização e o da não discriminação.
II - Objetivos
- Se conscientizar das diferenças existentes em nossa cultura e assumir atitudes contrárias a qualquer forma de discriminação, sendo solidário, cooperando e buscando sempre o diálogo como forma de resolver conflitos.
III - Conteúdo curricular ensinado:Todos os conteúdos de maneira transversal e interdisciplinar
IV - Sequência didática
Trabalhando a auto-estima
                  Painel
- Ao chegarem na escola as crianças tiveram uma surpresa ao verem na sala de aula frases contendo mensagens de amor,tolerância, solidariedade, etc. e um painel de flores onde deveriam trazer uma foto sua, desenho ou até recortes de figuras de crianças para colar numa das flores. No alto havia a seguinte frase: “Nesse jardim cada criança é especial”. No meio havia uma flor maior com uma foto de todos os alunos com a professora. Conversamos sobre a necessidade de se desenvolver esse projeto em nossa sala.

Dramatização
- Foi levada para a classe uma “caixa de surpresa” que só foi aberta depois de lida a história: “Menina bonita do laço de fita” de Ana Maria Machado e trabalhou-se a descrição da personagem feita pela autora que compara a menina à “uma fada do reino do luar” Depois, foi aberta a caixa que continha muitos coelhinhos de pelúcia coloridos e objetos pertencentes à história contada. As crianças fizeram a dramatização e uma paródia com a música ”coelhinho da páscoa”.

“Exposição de sua figura”

- Cada criança, em papel cenário, fez seu contorno com a ajuda do colega. Em seguida recortaram, pintaram, improvisaram o cabelo e vestiram a figura com suas roupas pessoaisDiscutiram sobre as diferenças e semelhanças dessas figuras fazendo um paralelo entre esse trabalho, o painel que nesse momento já estava completo e a historia da Menina bonita do laço de fita, sempre ressaltando detalhes e pontos positivos de cada um. Fizeram em seguida uma produção contando seus gostos,seus medos, seus sentimentos, etc.

Trabalhando a cultura africana

Capoeira
- Foi lido para as crianças o romance Saruê, Zambi de Luiz Galdino que conta a vida nos quilombo vista por duas crianças.

 Os alunos fizeram ilustrações e pesquisaram sobre a capoeira. Entrevistaram um capoeirista e trabalhou-se também a gravura “Jogo de capoeira” do artista alemão Rugendas.


INSTRUMENTOS DA CAPOEIRA

Literatura de cordel
História de zumbi e o Quilombo dos Palmares
- Foi entregue às crianças um poema de José Francisco Borges contando a história do negro, desde a sua saída da África até a vida e morte de Zumbi Montou-se um livro com mapas e ilustrações feitas pelas crianças. O Sr José Paulo Maciel, escritor e poeta de nossa cidade fez uma apresentação sobre a literatura de cordel.


HISTÓRIA DE ZUMBI E OS QUILOMBOS DOS PALMARES
José Francisco Borges )
http://jangadabrasil.com.br/novembro39/cn39110c.htm
Vídeo: Quilombo
- As crianças assistiram ao filme, discutiram então, o processo de rebelião e as formas de resistência à escravidão e como os negros, índios e brancos pela primeira vez no Brasil conseguiram conviver com suas diferenças. Comparamos o filme ao livro confeccionado pelas crianças e discutiu-se sobre o trecho do poema que dizia que ”os negros eram pacíficos e obedientes”.

Palavras e expressões de origem africana
- As crianças confeccionaram um dicionário com palavras e expressões de origem africana e fizeram as ilustrações.





- Trabalhamos a interpretação da letra "Mão da Limpeza" interpretada pro Gilberto Gil e chico Buarque e pesquisamos a influência da cultura negra nas músicas brasileiras.
Brincadeira
Capitão-de-campo-amarra-negro - Essa brincadeira sintetizava a ignóbil instituição Colonial já que consistia em escolher um menino para ser o fugitivo (representando o negro fujão). O sinal era o grito: capitão-de-campo-amarra-negro! Os companheiros saíam a procurá-lo tentando prendê-lo imitando o capitão do mato. As crianças aprenderam a brincadeira e pesquisaram então, outras brincadeiras do tempo do Brasil - Colônia, fizeram desenhos e exposição de brinquedos “antigos”.http://www.jangadabrasil.com.br/maio/ca90500e.htm

Jongo
- Dança de origem africana presente em nosso folclore.



Máscaras
- Estudamos a influência que a arte “Ioruba” (Nigéria) tiveram nas obras de artistas modernos com Picasso e Cezanne. Usamos a técnica do papel machê e cada criança confeccionou sua máscara.

Mosaico
- Foram criados quadros através de mosaico a partir da leitura do livro “Domínio das cores” de Roberto Caldas.
Exposição
- Fomos convidados a participar da semana da Consciência Negra em novembro em nossa cidade.


Fonte:Painel - Dia da Consciência Negra. Disponível em: Dicas Pedagógicas

V - Os recursos didáticos empregados
Livros didáticos, paradidáticos, literatura de cordel, músicas, danças, vídeo, dramatização, textos, cartazes, exposições, brincadeiras, confecção de máscaras e trabalhos de mosaico.

VI - O que os alunos aprenderam
As crianças aprenderam que o diálogo é uma forma eficaz de esclarecer conflitos, e que os diferentes pontos de vista devem ser respeitados. Identificam agora algumas situações discriminatórias, diminuindo o número de brigas e desavenças entre eles. Aprenderam também conteúdos de História no que diz respeito a formas de deslocamentos de populações africanas para a América, origens dos povos africanos e seu modo de vida, as condições de vida estabelecidas para os africanos no Brasil, locais de fixação, deslocamentos posteriores, em diferentes épocas no território nacional.
Avaliação do professor
Ao avaliar o interesse e desempenho dos alunos na aplicação do projeto alcancei muitos dos objetivos propostos quando vejo meus alunos conviverem em harmonia e principalmente quando vejo aquela criança negra, tímida, sentada no fundo da sala, que se dizia morena e que não levantava os olhos por se sentir envergonhada ao falarmos nesse assunto hoje, ouve com orgulho a sua história se sentindo valorizada e participante da construção de um país mais humano e de sua própria vida.
Aprendemos juntos, eu e meus alunos. E é nesse sentido que a escola se torna o espaço onde essas problemáticas podem ser discutidas e novos caminhos encontrados para um relacionamento de paz , de preservação de culturas e de aceitação do ’diferente” seja ele qual for. Sei que esse projeto foi apenas o primeiro passo de uma longa caminhada e de um longo esforço no sentido de se construir uma sociedade mais justa.

VIII - Bibliografia
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO.
Parâmetros curriculares nacionais. Brasília, Secretaria do Ensino Fundamental – SEF, volumes 1, 8 e 10, 1996.
TRINDADE, Azoilda Loretto da.
Multiculturalismo: mil e uma faces da escola/ Azoilda Loretto da Trindade, Rafael dos Santos. (orgs.).- 2. Ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

Esse projeto Foi elaborado e desenvolvido por mim numa classe de 4ºANO. Premiado com o “Prêmio Educação Cidadã: Melhores Práticas dos Temas Transversais dos PCNs”, no Congresso Educação Saber 2002, pela SIEEESP (Sindicato dos estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo) na categoria Temas Transversais e Pluralidade Cultural conquistando o primeiro lugar na categoria professor e primeiro lugar na categoria aluno, foi apresentado na 1ª Conferência Internacional de Educação "Multiculturalismo, Diferenças e Convivência Por uma Cultura do Outro" e publicado na revista Educando em Mogi das Cruzes.
Denise Mara Fernandes Cunha

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